Um guia com os passeios essenciais e dicas de como se virar nas cidades russas durante (ou depois) do mundial de futebol
Em pleno verão europeu, a maior nação territorial do mundo se prepara para receber turistas de todos os cantos com muita arte, arquitetura, história, vodca no copo e bola na rede. Saiba o que ver e fazer nas 11 cidades-sede da Copa 2018
1. Moscou
Moscou adentro, em que cidade do mundo há um metrô Dmitri Mendeleev, com luminárias que remetem a gigantescas moléculas, homenagem ao criador da tabela periódica? Ou um foguete estacionado como monumento em pleno passeio público?
Os domos coloridos das igrejas ortodoxas, a arquitetura socialista e os marcos do comunismo passam pela janela enquanto o silencioso poezda (trem) cruza o plano urbano generoso e elegante. A urbe que inspirou peças de Tchaikovski, a literatura de Tchekov, pintores e dramaturgos, hoje ambienta um movimento de arte moderna internacional sem perder o status de meca do balé clássico, da ginástica olímpica e de outras artes performáticas.
Coração histórico, geográfico e espiritual da cultura russa, o complexo arquitetônico do Kremlin e a Praça Vermelha merecem a atenção de quem tem apenas um dia na cidade. Palco de execuções e coroações desde o século 15, o grande largo é aberto para pedestres, protestos e eventos de todos os portes (Paul McCartney fez um show aberto aqui em 2003).
Sob a sombra das icônicas cúpulas da Catedral de São Basílio, o tráfego de turistas é intenso o dia todo – chegue cedo para ver o Mausoléu De Lenin, caminhar pela praça e visitar o Museu do Kremlin (10h às 17h; fecha na 5ª).
Para quem tem dois dias ou mais, sair dos arredores da Praça Vermelha é fundamental para vivenciar o espírito moscovita. Dois dos melhores lugares para sentir essa vibe são os passeios nos parques Gorki e Vdnh, disneylândias da cultura e do povo soviéticos, com excelentes museus, instalações esportivas, palcos e muito lazer ao ar livre, no mais puro espírito socialista.
À noite, espetáculos de música clássica, balé e ópera acontecem em diversos espaços e são mais frequentados por locais que por visitantes. Entre os palcos mais tradicionais estão o Teatro Bolshoi e, em uma categoria mais econômica e menos turística, o excelente Teatro Helikon, com legendas em inglês. Performances de música também invadem o Museu Pushkin de Belas-Artes, cuja coleção de pintura russa e europeia dos séculos 19 e 20 merece atenção.
Outros imperdíveis das artes são a Galeria Tretyakov dentro de um castelo boyar recheado de obras de Kandinsky, Chagall e Klimt, e o subestimado Museu Roerich, dedicado a Nikolai Roerich, que retratou paisagens e culturas da Ásia Central no início do século 20. As tendências da arte contemporânea estão no Museu Garage, muito frequentado pela juventude moscovita e pouco pelos estrangeiros, embora multilíngue.
Hotéis e restaurantes em Moscou
Ao lado do metrô Arbatskaya, o calçadão Arbat é repleto de lojas, cafés e restaurantes, que disputam ativamente a atenção dos transeuntes. Comer na rua não é problema mesmo tarde da noite – vide as tantas opções abertas. Um dos melhores georgianos é o Genatsvale Vip e, em um nível superior, o Sahli. No Uzbekistan estão os sabores da Ásia Central e, para provar a cozinha tradicional russa, confira o Café Pushkin ou o Dr. Zhivago , no Hotel Nacional, perto do Kremlin.
Para se hospedar, o Cosmos, hotel construído no auge da URSS para os Jogos de Moscou de 1980, é uma experiência à parte.
2. São Petersburgo
Um passeio pela Avenida Vevsky explica o apelido “Veneza do Norte”: a arquitetura neoclássica decora fachadas em série, interrompidas apenas pelas pontes peatonais sobre o sistema de canais do Rio Neva. No dia 23 de junho, em plena Copa, o Festival das Velas Escarlates reunirá 1,5 milhão de pessoas nas margens do rio para ver uma imensa queima de fogos e a navegação triunfal de um veleiro iluminado, símbolo da liberdade, do amor e da esperança.
Seja a pé, seja a bordo das balsas (como em Veneza!), o rolê pelo centro histórico não pode deixar de incluir as catedrais Kazan e Isaac; a Igreja do Sangue derramado, uma das mais belas do país, com domos coloridos em alto-relevo; e os imperdíveis Museu Russo e Hermitage, este um palácio de ambientes suntuosos com uma coleção de arte excepcional.
Na cidade, se aprende o real sentido da expressão “noites em claro”. Graças à latitude elevada, no verão a trama urbana sem edifícios altos recebe luz solar quase 24 horas por dia, iluminando por toda a madrugada as ruas onde Pushkin, Dostoievsky e Gogol viveram e ambientaram suas obras. Uma das experiências mais autênticas dos visitantes é adentrar a madrugada sob o cultuado sol da meia-noite.
No circuito mainstream, a balada ferve nos bares da Rua Rubinstein, que, durante o dia, recebe mercados de pulgas. Não distante dali, na Rua Kuznechny, encontra-se a casa onde Dostoievsky viveu, transformada em museu.
No lado B da cidade, o Parque-museu da Arte de Rua, a 30 minutos de táxi do Centro, mistura jovens locais com estrangeiros em um ambiente ao ar livre com skate, bike, dança, concertos, grafite… Do outro lado do Neva, o Museu Erarta é o espaço oficial da arte moderna.
Restaurantes e hotéis em St. Petersburgo
Bons restaurantes não faltam em St. Pete. Para provar a cozinha local, vá ao Severyanin. Já no Mamalyga, a refeição farta reproduz pratos de regiões do Cáucaso, enquanto o Duo Asia é para fãs da cozinha asiática contemporânea. Para um expresso, o Café Singer tem mesinhas de cara para a Catedral Kazan. Dos hotéis, o Park Inn, perto da estação de trem principal, vale pela localização e pelo café da manhã.
3. Kaliningrado
Caminhando pelo centro histórico de Kaliningrado, logo se percebe que pouco sobrou do plano urbano original de Königsberg. A cidade alemã, destruída, tomada e rebatizada pelas forças soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial, hoje se revela na arquitetura remanescente e na história de uma trama urbana reconstruída.
Sua posição geográfica estratégica à margem do Báltico, espremida entre a Polônia e a Lituânia (e, portanto, distante de Moscou), proporciona à população um cotidiano mais cosmopolita que o vivido pelo resto dos russos. Mas, para muitos dos antigos habitantes, Kaliningrado ainda carrega a atmosfera de seus dias como posto avançado da URSS, clima que logo se sente em um passeio a pé.
Apesar da carregada arquitetura soviética e dos obsoletos monumentos a antigos líderes, o miolinho central oferece uma visita agradável, suavizada por parques arborizados, esquinas revitalizadas e museus muito peculiares. Imperdível, o Museu World Ocean permite adentrar um submarino nuclear e outras embarcações de guerra à margem do Rio Pregolya.
Outro museu inusitado é o do Âmbar um dos únicos do gênero em todo o mundo. Passada a impressão de que foi criado para atender a interesses exclusivamente geológicos, o espaço se revela uma experiência completa sobre a famosa resina fóssil, com exposições ligadas à história, ecologia, navegação, ciência e artes no Báltico. Mais importante, a atração está instalada no interior de uma conservada fortaleza neogótica do século 19, o mais legal da visita!
Não distante, a Catedral de Kaliningrado, do século 14 e famosa por ter sido destruída e reconstruída durante guerras passadas, é talvez o marco urbano mais emblemático da cidade. Patrimônio da Unesco, foi completamente restaurada em 1992 e guarda o túmulo de grandes líderes que por aqui passaram, além de alguns filhos célebres da cidade. O mais famoso mausoléu, localizado no belo jardim, é o do cultuado filósofo Emmanuel Kant (1724-1804), que nasceu, viveu e morreu num tempo em que Königsberg fazia parte da antiga Prússia.
Restaurantes e hotéis em Kaliningrado
Hospede-se próximo à catedral para fazer tudo a pé. O hotel Kaiserhof está mais para charmoso, enquanto o Ibis é igualmente bem localizado e se enquadra na categoria econômica funcional.
Opções de restaurantes não faltam ao longo da Avenida Lenin e da área conhecida como Teatralnaya. Anote um, descolado, para provar algo saboroso e diferente: os espetinhos de carne e vegetais do uzbeque Kaliningrad-Tashkent.
4. Nizhny Novgorod
No topo de uma colina, marcando a junção dos rios Oka e Volga, a quinta maior cidade da Rússia é um posto comercial estratégico desde sua fundação, no século 13. E vista de baixo, da margem do Volga, impõe respeito. Sua cidadela fortificada – o Kremlin de Nizhny – repousa protegida por torres de vigília, unidas por uma muralha que acompanha o acentuado relevo à beira-rio.
Só de se afastar um pouco da cidade, a bordo de um tour de barco sobre o Volga (há várias opções), já é um dos passeios mais legais pra se fazer aqui. O Kremlin reúne monumentos e prédios públicos iluminados à noite, compondo, a distância, um cenário de cartão-postal.
Em terra firme, o passeio imperdível de “NiNo” – como seus habitantes a apelidaram – é uma descompromissada caminhada pelas alamedas do Kremlin e por seus jardins e museus, entre eles o de arte contemporânea.
Do lado de fora, a monumental escadaria Chkalov liga o Kremlin ao Volga, pano de fundo preferido dos fotógrafos de casamento locais. Próximo dali, seguindo pelo calçadão à beira-rio, se alcança o teleférico que cruza o Volga. Em 13 minutos e a 80 metros do leito, o bondinho percorre os 3,2 km de extensão até chegar ao pequeno vilarejo de Bor, na margem Norte.
Durante os tempos soviéticos, NiNo foi renomeada Gorki, em homenagem ao escritor socialista Maxim Gorki. Foi aqui que o célebre camarada dissidente Andrei Sakharov, inventor da bomba de hidrogênio e, posteriormente, vencedor do prêmio Nobel da Paz por sua luta política pelo desarmamento, ficou detido após se opor à invasão soviética ao Afeganistão, em 1979.
O apartamento onde ele viveu sob vigília da KGB até ser libertado, em 1986, durante a Perestroika de Gorbatchev, pode ser visitado, e vale a corrida de táxi de 10 km até a Rua Prospekt Gagarina, 214. Outro lugar interessante – por ser 100% ligado à história e à cultura da região do Volga – é a preservada Mansão Rukavishnikov, com ambientes do século 19 e coleções de arte de uma antiga (e rica) família comerciante.
Restaurantes e hotéis em Nizhny Novgorod
Na hora da fome, o Expedicia, ao lado do Kremlin, vale a visita não apenas pelos pratos da tundra e da Sibéria mas também pelo ambiente decorado com mapas, fotos e equipamentos de expedições passadas. Para uma experiência gastronômica clássica, vá ao Vitalich, endereço de políticos e artistas.
No Centro, hamburguerias despojadas são populares entre os jovens, como a Salut Burger. Já o café Lepi Testo é opção ótima e rápida para provar bons pelmenis (tipo de ravióli russo). Entre os hotéis, o cinco-estrelas Kulibin é tradicional. Mais econômico e bem localizado, o Ibis está esgotado em junho e julho.
5. Volgogrado
A quarta maior metrópole da Rússia é também uma charmosa e vibrante cidade histórica. Eterno ponto de encontro entre culturas, sua particular posição geográfica, no sopé dos Montes Urais, marca a divisa entre a parte europeia e a asiática do extenso território russo, em uma das principais paradas da ferrovia Transiberiana.
Orientar-se em seu plano urbano é fácil. Ao margear a ampla Praça Platinka, a avenida principal (chamada Lenin, como em toda cidade russa) cruza o Rio Iset com sua calçada espaçosa, cheia de restaurantes e cafés, frequentada noite e dia pelos jovens de Ecaterimburgo.
A região central da cidade é marcada pela tragédia do czar Nicolas II e sua família, assassinados, em 1918, pelas forças soviéticas dentro da Igreja do Sangue Derramado em Honra de Todos os Santos, por sinal uma obra-prima da arquitetura sacra que merece a visita. Não distante da praça, outra atração interessante é o Centro Cultural Boris Yeltsin. Esse impressionante (pelo tamanho!) complexo de galerias e auditórios funciona a pleno vapor desde que foi inaugurado, em 2015, promovendo workshops e exposições de arte de cunho social e educativo.
A partir do Centro, uma viagem de uma hora e meia de carro dá acesso à poética cadeia de montanhas descrita na literatura de Pavel Bazhov, o cultuado autor dos ensaios sobre os Urais cuja obra inspirou o balé A Flor de Pedra, de Prokofiev. Nos montes urais, cada época do ano traz aromas e cores diferentes. Uma das mais belas áreas de conservação, o Parque Bazhov protege um bosque temperado em meio às montanhas, que ganha cores especiais no outono e muita diversão à beira de seus lagos no verão.
Restaurantes e hotéis em Ecaterimburgo
Na hora de planejar sua visita, dê uma espiada no site oficial de informações turísticas, bastante completo, com descrições de inúmeros atrativos e calendário de eventos atualizado. Uma opção de hospedagem boa, econômica e bem localizada é o hotel Park Inn, a três quadras da Praça Platinka. Em um nível mais superior está o Visotsky Hotel, que tem uma vista fabulosa do Centro.
Para comer como os russos, no número 69 da Avenida Lenin fica o excelente georgiano Khmeli-Suneli. Para um almoço rápido, econômico e saboroso, visite a taverna Podkova, no número 28 da mesma avenida.
7. Saransk
Rica, moderna e distante “apenas” 650 km de Moscou, Saransk é a menor das cidades-sede da Copa. Um passeio pelo pacato Centro logo deixa claro: com suas vestes coloridas, danças folclóricas, arquitetura em madeira, culinária e idioma próprios, a Mordóvia é uma nação à parte dentro da mãe Rússia.
Embora pequena, a cidade tem muito pra se ver e fazer, em um circuito fácil de ser percorrido a pé. Uma das visitas obrigatórias é a Casa Mordóvia, vilarejo étnico-turístico com construções típicas de madeira e um restaurante regional famoso pelo pachat, tipo de panqueca parecido com o blini (encontrado em outras regiões da Rússia).
A casa fica ao lado do principal parque da cidade e a uma curta distância da Catedral Feodor Ushakov, construída em 2006 no estilo tradicional da igreja ortodoxa russa. Mais adiante, o Museu de Belas-Artes traz o nome e a obra do mais famoso filho da cidade, Stepan Erzia (1876-1959), conhecido como o Rodin russo. O museu vale a visita não apenas pelas esculturas de Erzia mas pela coleção de telas de pintores da Rússia de distintas épocas, com destaque para os artistas nativos da Mordóvia, entre os quais a própria diretora do museu, Ludmila Narbekova.
O Centro de Saransk é marca-do pela Praça Milennium, onde um centro de convenções recém-inaugurado promete estar a toda em 2018. A praça fica à sombra do imponente edifício da Universidade da Mordóvia, que oferece cursos a estrangeiros e cuja arquitetura dominante na paisagem urbana se assemelha à da Universidade de Moscou.
Restaurantes e hotéis em Saransk
Em frente à praça, o restaurante Big Pig se orgulha de ser o mais internacional e bem localizado da cidade. Seus dois ambientes amplos provavelmente receberão jornalistas, torcedores e convidados durante os dois dias de jogos que a cidade sediará durante a Copa 2018.
A 50 metros da esquina do Big Pig com a universidade, o Hotel Meridian é uma boa e bem localizada opção de hospedagem. Em uma categoria mais econômica estão o Hotel Park e o Saransk. Nas três hospedagens (como na maioria dos hotéis da Rússia), o staff fala inglês.
É possível conhecer Saransk em um dia. Se tiver mais tempo, encare 200 km de carro por estrada boa para visitar os lagos e bosques do P.G. Smidovich State Reserve, uma das reservas naturais mais antigas da Rússia.
8. Samara
Com pouco mais de 1 milhão de habitantes vivendo à margem de uma generosa praia de areia, Samara é um hub de transportes em outra estratégica curva do Volga. O passeio pelo calçadão à beira-rio – com ou sem banho no curso d’água – garante o lazer dos locais e dos raros turistas estrangeiros por aqui.
Caminhando entre adolescentes de patins, ciclistas, banhistas, esportistas, jovens mães empurrando carrinhos de bebê e idosos jogando xadrez, observa-se um convívio harmônico, civilizado e bastante “socialista”, como se o equipado espaço público fosse um grande clube, projetado para toda a população usufruir gratuitamente. Com tão colorida e dinâmica atmosfera de interação social, o promenade sobre o aterro é, de longe, o lugar mais interessante e alto-astral a se visitar na cidade, embora não faltem atrativos ligados à sua peculiar história.
Samara ficou famosa pela participação ativa no programa espacial russo. São daqui alguns dos melhores engenheiros espaciais do país, só uma das curiosidades a serem conferidas no Museu Cosmos, com sua coleção de equipamentos e cápsulas espacias usados desde os anos 60. Impossível não encontrar o endereço na Avenida Lenin onde está localizado com um enorme foguete (de verdade!) na entrada. Na saída, vale uma espiadinha na loja de suvenires, onde se vende comida de astronauta, brinquedos científicos e camisetas temáticas.
Outro lugar inusitado para se conhecer é o bunker – gourmetizado – de Stalin. Construído em 1942 sob a Academia de Arte para abrigar o líder da URSS caso Moscou fosse tomada pela Alemanha nazista, o refúgio foi mantido em segredo até 1990 pela KGB. São nove andares de subsolo, com um espaço planejado e mobiliado, porém nunca utilizado. Fácil de encontrar, a uma quadra do rio, é uma visita rápida e curiosa, já que – você verá – não se assemelha a nada encontrado em nenhuma outra parte do mundo.
Restaurantes e hotéis em Samara
Seguindo a pé sem se afastar da beira-rio, não será difícil escolher um lugar para comer. Samara é a cidade dos restaurantes e reúne uma boa variedade de cozinhas típicas de diversas partes da Ásia e da Rússia. Se você nunca provou a culinária da Geórgia, experimente o menu do Khachapuria, que traz também outros sabores do Cáucaso. Para experimentar os peixes do Volga e a cozinha de Samara, o melhor lugar é o restaurante U vakano, que ainda produz uma cerveja regional famosa nacionalmente.
Para fazer tudo a pé na cidade, escolha hospedar-se próximo ao rio, como no caso dos hotéis Loft, Graf Orlov e Holiday Inn Samara.
9. Kazan
Fonte: Viagem e Turismo